Ex-secretário estadual de Desenvolvimento Econômico e uma das principais lideranças do setor de construção civil no Rio Grande do Norte, o empresário mossoroense Marcelo Rosado considera que as políticas adotadas pelo atual governo não têm proporcionado um ambiente favorável à atração de investimentos para o estado.
Pelo contrário, Rosado afirma que até mesmo os investidores que já têm empreendimentos em solo potiguar não têm obtido a atenção devida do Poder Público, o que tem dificultado a própria manutenção dos investimentos. “Não existe um ambiente de aproximação. Houve, por exemplo, mudanças de alíquotas [de impostos] para quem trabalha no comércio. Isso faz com que o estado arrecade mais, mas tira a competitividade do empresário que está aqui. Então, quem consumia aqui passa a comprar em outros centros”, reclama.
Paralelamente a isso, conta o empresário, estados vizinhos adotaram estratégia diferente, o que criou um ambiente que estimula a geração de investimentos nesses locais, ao contrário do que ele observa no Rio Grande do Norte. “Estados vizinhos, como Pernambuco e Ceará, que são mais agressivos, baixaram a alíquota. Neste cenário, empresas pagam menos impostos, mas geram mais empregos e fazem mais investimentos. A sociedade também ganha”, destaca.
O diretor da rede A Construtora aponta ainda outras adversidades que, na avaliação dele, travam o desenvolvimento do estado, por criarem um ambiente hostil para empresários em geral. Por exemplo, as dificuldades com licenciamentos ambientais. “Nos outros estados, há legislações na parte ambiental que facilitam a expedição de licenciamentos. Se tem menos exigências de projetos e o licenciamento fica mais rápido, isso ajuda as empresas a investirem”, frisa.
Para Marcelo Rosado, o empresário que investe no interior do estado enfrenta ainda maiores dificuldades que o empreendedor da capital e da Região Metropolitana. Ele ressalta a questão da segurança – que resultou, entre outras medidas, no fechamento de agências bancárias em várias cidades, o que ele lamenta. “O fechamento de agências fragilizou regiões que já não tinham uma economia muito forte. Cada dia há mais dificuldades para o comerciante do interior, que está pensando em diminuir os investimentos”, pontua. Isso sem falar, complementa, na má condição das estradas, que prejudica o escoamento da produção em cidades mais afastadas do polo logístico, que é Natal.
Ainda no rol das dificuldades que tornam o ambiente desfavorável para investimentos no Rio Grande do Norte, o ex-secretário de Desenvolvimento menciona os constantes atrasos nos salários de servidores estaduais. “Temos uma dependência desses recursos. E, [quando há atrasos], ele [o servidor público] compra o mínimo possível. Por precaução, não estão comprando nem algumas necessidades básicas”, enfatiza.
Com isso, Marcelo Rosado visualiza um cenário desanimador. Segundo ele, o empresário potiguar está cada vez mais reticente em fazer novos investimentos. Mais sério que isso, assinala, o empreendedor do Rio Grande do Norte tem planejado diminuir a participação nos negócios, devido ao pouco estímulo e ao cenário altamente desvantajoso. “Mês a mês, temos uma situação onde a gente não pensa em crescer, e sim em se manter. E aí vai fazendo cortes, diminuindo funcionários. Isso causa dificuldades para o jovem, por exemplo, que vai buscar oportunidade em outros lugares. E o investidor decide fazer investimento em outros estados, onde se tem uma política macro”, evidencia.
“O empresário está diminuindo [despesas] ao máximo para permanecer aberto. Ele prefere não investir. Não há um ambiente onde as pessoas falem em crescimento. No interior, as olarias estão com dificuldades até para pagar a conta de energia. A gente encontra um ambiente hostil”, arremata.
Sociedade e classe produtiva precisam participar da política, diz empresário
Para reverter o cenário desestimulante para a atração de investimentos, Marcelo Rosado prega maior participação da sociedade no processo político-eleitoral. Tendo em vista que em 2018 haverá eleições gerais, o empresário registra que o modelo político atual está “falido”, motivo pelo qual é preciso renovação.
“O modelo convencional, que vem de muitas décadas, está falido. Esses modelos não conseguiram mostrar que conseguem ter regeneração e recuperação. Não adianta mais insistir. A sociedade precisa participar deste processo, e as classes produtivas têm responsabilidade neste momento”, afirma.
Na avaliação do empresário, que também já ocupou o cargo de secretário de Meio Ambiente e Urbanismo na Prefeitura de Natal, é necessário adotar na política “modelos ágeis com respostas rápidas” para as demandas da sociedade e do setor produtivo, o que provocará, segundo ele, efeitos positivos em outros setores. “As classes produtivas têm organização e entendem o que precisa ser feito para que as empresas voltem a gerar empregos”.
Neste sentido, Rosado defende também o fim da visão de que o governo é que deve gerar empregos. “Quem oferece emprego é a iniciativa privada. O governo deve criar segurança e ambiente para que as empresas voltem a confiar e a investir. A boia de Brasília não vai mais chegar. Os estados que estão conseguindo se recuperar é porque estão aproveitando as suas vocações e as potencializando, fazendo mais do que existia antes”, complementa, se referindo à escassez atual de recursos federais, antes a “tábua de salvação” do Rio Grande do Norte.
O empresário finaliza tratando de “confiança”, o que, segundo ele, é indispensável para a retomada econômica do Rio Grande do Norte. “As empresas precisam ter confiança. Muitas vezes, chega a fiscalização e ameaça fechar uma indústria que estava nascendo. Tem que haver apoio, confiança. As empresas precisam ter segurança de que continuarão abertas e crescendo, e não preocupados que serão fechados”, conclui.