O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou a Pesquisa Anual da Indústria da Construção (Paic 2015), comparando os anos de 2014 e 2015 no tocante aos números da construção civil. O balanço geral é de que as estatísticas foram negativas. Houve recuo no número de empresas ativas, na receita operacional líquida, no número de incorporações e também nas construções contratadas por entidades públicas, que perderam participação entre um ano e outro. Os dados servem aos órgãos governamentais e privados, que utilizam as informações para planejamento e estudos mais detalhados do setor.
A indústria da construção somou, em empreendimentos realizados, R$ 354,4 bilhões, o que representa um recuo de 16,5% em relação a 2014. A queda também refletiu com a receita operacional líquida, que, ao encerrar com movimentação de R$ 323,9 bilhões, registrou retração de 18,7% em termos reais. No que concerne o gasto com pessoal ocupado, os números determinaram o correspondente a 33,3% dos custos e despesas das empresas. Já o salário médio mensal passou de R$ 1.970,05 em 2014, para R$ 1.943,43 em 2015 – queda de 1,4%.
O Agora Jornal entrevistou o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio Grande do Norte (Sinduscon), Arnaldo Gaspar Júnior, para conhecer sua avaliação sobre esses dados e como eles podem afetar o estado potiguar. No julgamento do empresário e engenheiro, o IBGE constatou, simplesmente, o que era óbvio. Gaspar Júnior apenas discordou de um elemento da pesquisa do Instituto: a retração salarial de 1,4%. De acordo com o presidente do Sinduscon-RN, o que houve, na verdade, foi uma diminuição da massa de mão de obra.
“Houve toda uma retração da economia em 2015 em comparação a 2014. A única coisa que discordo é em relação à queda salarial, porque tanto em 2015, quanto em 2016, houve uma queda da massa salarial – gente que ficou desempregada. Quem ficou empregado, todavia, não teve diminuição do salário; pelo contrário, porque todo o salário é corrigido pela inflação passada. Não existiu essa diminuição salarial, houve demissões porque aumentou o desemprego violentamente”, explicou.
Gaspar Júnior comparou o número de empregados de 2014 para hoje. Segundo o especialista, há três anos, o setor possuía cerca de 40 mil trabalhadores na construção civil, hoje, contudo, há entre 24 mil e 25 mil empregados; uma queda “muito acentuada” que “afetou tanto o Brasil quanto o Rio Grande do Norte, uma vez que os números são, praticamente, lineares”.
O presidente do Sinduscon-RN analisou que o ano de 2017 reservava um ótimo desempenho para a indústria em reflexo da retomada da economia brasileira. Os empresários e profissionais do setor contavam com o êxito das reformas previdenciária e trabalhista em Brasília para que isso acontece. Porém, após as delações da JBS que vieram a público e expuseram o presidente Michel Temer, percebeu-se uma trava na passagens dos projetos de reforma. Agora, admite Arnaldo Gaspar Júnior, não há como prever o que vai acontecer com o setor de empreendimentos da construção civil.
“Só agora no começo de 2017, apresentou-se uma recuperação no emprego da construção. Tínhamos uma retomada bem clara neste primeiro semestre – eram sinais claros da retomada da economia. O mercado estava muito confiante nas reformas trabalhista e previdenciária e na regulamentação da terceirização; tudo isto estava dando um alento muito grande, mas, depois do dia 18 de maio, com a delação da JBS, agora fica todo mundo na expectativa, porque a crise política alimenta as más notícias na economia. Quando a economia estava se recuperando, veio mais crise política”, lamentou. “Não sei como a economia vai se comportar nesse trimestre atual pós-delação; é preciso ter números que ainda não temos, mas com certeza o primeiro semestre deste ano estava sinais claros de recuperação”.